sábado, 9 de agosto de 2008

Erroll Garner


Eventualmente a história da música nos agracia com certos indivíduos que possuem uma musicalidade absolutamente extraordinária e totalmente intrínseca. Quando a um indivíduo desses soma-se um carisma magnético e um lirismo capaz de atingir o âmago da beleza e da elegância na sua forma mais pura, é difícil conter o ímpeto de classificá-lo como gênio. Esse é o caso de Erroll Garner. Poucos músicos de jazz conseguiram criar um estilo próprio tão distinto, e que uma vez consolidado, sofreu tão poucas mudanças no decorrer da carreira.
A história de Erroll Louis Garner inicia-se na Pensilvânia, mais precisamente na cidade de Pittsburgh. Começou a tocar o piano, autodidata, com três anos de idade, e aos sete já aparecia nas rádios. Durante sua adolescência tocou em diversas bandas e ganhou certa notoriedade em sua cidade natal. Nunca estudou música e não era capaz de escrever ou ler partituras, tendo permanecido "músico de ouvido" por toda sua vida.
Já aos 23, e como quase todo músico de jazz da época, migrou para Nova York em busca de projeção. Tocou brevemente com o baixista Slam Stewart (que por sua vez tocou com figuras como Benny Goodman e Art Tatum) e não demorou muito para atingir o sucesso com que tanto sonhava.
Erroll Garner foi um dos músicos de jazz mais populares dos anos 50, e atingiu esse posto graças única e exclusivamente a sua música, uma vez que não cantava, tampouco costumava entreter seu público com discursos cativantes ou vocalizações cômicas, como faziam seus antecessores Fats Waller e Louis Armstrong (comparáveis apenas em termos de como adquiriram afeição universal). Diz-se que Garner podia facilmente chegar ao estúdio, sentar-se ao piano e gravar três álbuns em um dia, todos prodigiosos first-takes. Daí vem a grande quantidade de material que deixou gravado. Assim foi até sua morte em 1977, época em que já era mundialmente reconhecido.
O estilo de Erroll Garner foge a qualquer classificação, pois não se adequa aos padrões do stride piano que predominavam entre os pianistas da Era do Swing, mas tampouco se encaixa nos moldes das distorções harmônicas e dos andamentos frenéticos advindos do Bebop. Justamente por não estar preso a nenhuma corrente, Erroll podia flertar com ambas. Assim gravou, à sua moda, standards de Swing como Moonglow, All of Me e Body and Soul ao mesmo tempo que tocou com Charlie Parker, precursor do Bebop, nas famosas Cool Blues Sessions. Possuía uma maneira de tocar na qual a mão esquerda se mantinha firme segurando o ritmo, tal qual uma guitarra base faria, enquanto o seu incrível talento para melodia emanava elegantemente da mão direita, que percorria livre o teclado com absoluta sofisticação (sem nunca olhar para o piano!), muitas vezes se utilizando de oitavas sincopadas para dar um magnífico efeito às suas frases, sempre ricas e cheias de minúcias. Sem sombra de dúvida, Erroll Garner é hors concours entre os grandes pianistas da história do jazz.
Penthouse Serenade, Erroll Garner Trio. Arquivo em mp3
My Fair Lady Medley, Erroll Garner (piano), Kelly Martin (bateria), Eddie Calhoun (baixo). http://www.youtube.com/watch?v=qvJVc7BWpEk&feature=related
Pra quem se interessar, procure no http://www.deezer.com/ por Erroll Garner e ouça Laura, Erroll's Bounce e Blues I Can't Forget.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Gene Krupa


Nas artes, seja a música, literatura ou pintura, sempre existe o seleto grupo de desbravadores que se arriscam na invenção ou no descobrimento de traços inovadores para seu campo e é assim que surge a avant-garde; Gene Krupa não tem um, mas vários motivos para se encaixar no “Parthenon” dos músicos de jazz.
Nascido em 15 de janeiro de 1909, em Chicago, Eugene Krupa começou a trabalhar prematuramente, junto com seus irmãos, e já é aí que começa sua relação com a música. Aos 11 anos adquiriu o produto mais barato da loja de instrumentos musicais que seu irmão trabalhava: um kit mínimo de bateria. Tocando em algumas bandas e shows de sua cidade seu nome aos poucos foi crescendo e no fim da década de 20 já era relativamente conhecido em Chicago; mas a mudança para Nova York em 1929 foi o que impulsionou definitivamente Gene Krupa para o meio musical.
Depois de tocar com nomes do porte de Glenn Miller e Bix Beiderbecke, Krupa foi chamado para integrar a big band do clarinetista Benny Goodman, e junto com o vibrafonista Lionel Hampton formaram um dos mais importantes grupos da história do jazz.
Em 1938, a mencionada big band fez o primeiro concerto de música popular no tradicional Carnegie Hall, e foi ouvido também o primeiro solo de bateria que se tem registro, na execução da canção Sing Sing Sing! A partir de 42, Gene Krupa passa a consolidar sua carreira solo, sendo o primeiro baterista a liderar uma big band; assim fazia história lançando álbuns como Drummin’ Man e Let me off Uptown. Krupa inovou o conceito da bateria da maneira como esta é disposta: idealizou o chimbau, par de pratos que ficam à altura do braço esquerdo do baterista, além de tornar os tambores afináveis, o que permitiu a manipulação do som do instrumentista a seu gosto.
Seu carisma aliado à sua incrível musicalidade ergueram-no ao patamar dos bateristas responsáveis pela transição da música dixieland para a chamada “Era do Swing”, ou seja, que inovaram e deram novas caras para o jazz insurgente de New Orleans, Chicago e Nova York. Acrescenta-se a esse grupo Buddy Rich, Cozy Cole e Jo Jones.

O primeiro link leva à música Sing Sing Sing!, interpretada pela big band de Benny Goodman; um de seus primeiros números de sucesso, foi responsável por alçar Krupa ao status de solista.

http://br.youtube.com/watch?v=j9J5Zt2Obko&feature=related


“Drum Boogie” é o número apresentado no segundo link, cena do filme “Ball of Fire” (1941), com a cantora Martha Tilton. Note como instrumentista “passa” seu solo. A segunda parte da apresentação é de cair o queixo!

http://br.youtube.com/results?search_query=drum+boogie&search_type=&aq=-1&oq=

Enjoy!